terça-feira, 27 de outubro de 2015

INCLUSÃO DE UMA CRIANÇA TETRAPLÉGICA: Orientações didáticas


 Introdução:

O presente texto tem como objetivo abordar a inclusão de uma criança tetraplégica – paralisia nos membros superiores e inferiores – com cognição normal, mas com movimento apenas na cabeça. Este aluno utiliza uma cadeira de rodas e necessita de ajuda na remoção da urina a cada duas horas através de sonda.

Rodrigo (nome fictício) tem 11 anos e este ano está matriculado no 5° ano do Ensino fundamental de uma Escola da Rede Pública Estadual, na zona Sul de João Pessoa.

Esta escola está localizado num bairro popular, no qual as barreiras arquitetônicas dificultam o acesso de Rodrigo a escola e até mesmo esta não está devidamente adaptada para o caso específico deste aluno.

A ABNT 9050 publica um conjunto de Normas, que quando obedecidas, dão acessibilidade plena a praticamente todas as pessoas com deficiência.

Acessso : http://www.mpdft.gov.br/sicorde/NBR9050-31052004.pdf

No entanto, apesar de todas as barreiras arquitetônicas Rodrigo chega até a escola e está lá sentado na primeira fila da sala de aula esperando no mínimo o direito de adquirir conhecimentos que o leve a inclusão social numa sociedade em constante transformação.

Ao nos depararmos no primeiro dia de aula com um aluno nestas condições o que fazer?

Sabemos que geralmente a formação inicial e continuada não nos prepara para trabalhar com a inclusão de pessoas deficientes.

Primeira Orientação:

 No primeiro dia de aula de um ano letivo, cabe a cada professor, no seu planejamento preparar uma dinâmica de inclusão direcionada a pessoas com deficiência, que se por ventura na sua sala de aula tiver um aluno com deficiência o professor a executará.

Falamos assim, porque no primeiro dia de aula não sabemos quem são nossos alunos, no mínimo recebemos a lista com os nomes dos mesmos.

Dinâmica de Inclusão

Divide-se a turma em dois grupos: Grupo A e Grupo B;

Distribui-se fichas com o grupo A, com por exemplo, duas ficas brancas, duas amarelas, duas azuis e assim sucessivamente até que todos sejam contemplados;

Pede- se que juntem-se os alunos que estão com a ficha da mesma cor;

Veda-se com um lenço os olhos de um componente da dupla;

Amarra com outro lenço as mãos do outro componente:

Solicita-se que cada dupla faça um desenho livre;

O grupo B, fica como observador:

Finalizada a atividade do desenho, pede-se que cada dupla fale como se sentiu realizando essa atividade.

O mesmo procedimento é realizado com o grupo B:

O grupo A agora fica na condição de observador;

Pede-se a cada dupla do grupo B que relate com foi essa experiência;

Solicita-se que o grupo A fale com se sentiu enquanto observador;

Vale lembrar que Rodrigo- o aluno tetraplégico- também participará, ele ficará com os olhos vedados.

Por fim o professor fará uma sistematização abordando a importância de compreendermos as limitações de cada ser humano.

(Dinâmica orientada por uma Psicóloga de uma escola da rede municipal de ensino de João Pessoa)

Segunda Orientação:

A partir do segundo dia de aula, procuraríamos a equipe pedagógica e o gestor da Escola, para que juntos possamos incluir esse aluno de forma que ele tenha acesso ao conhecimento igualmente aos seus pares.
Primeiro Passo: Convidar a família e termos o acesso ao diagnóstico referente à que tipo de deficiência Rodrigo possui.
Agora que já sabemos que Rodrigo é Tetraplégico e possui Cognição Normal achamos conveniente conceituar Tetraplegia e Pensamento.
O que é tetraplegia?
Uma das limitações físicas mais severas (ou tetraplegia), onde ocorre a perda em maior ou menor grau, do movimento dos braços e pernas do indivíduo. Existe uma imensa gradação nessa perda de movimento, que pode ir desde a perda de força, até uma imobilidade completa. As situações que provocam a tetraplegia são muitas, mas quase todas têm a ver com danos a uma porção da medula na coluna cervical.

Os maiores causadores são os acidentes de automóvel, os provocados por mergulhos de cabeça, os tiros, os erros médicos e os acidentes vasculares cerebrais. O número de pessoas portadoras de tetraplegia é muito maior do que a maioria das pessoas imagina, pois esses indivíduos são freqüentemente mantidos em suas residências (em suas camas), absolutamente isolados do mundo; e quanto mais pobre, menos acesso terá a tecnologias assistivas, e, portanto mais isolado estará o indivíduo.
Embora os dados do censo brasileiro de 2000 não forneçam informações detalhadas, pode estimar em cerca de 200.000 pessoas portadoras de tetraplegia no Brasil. Sob diversos aspectos, um indivíduo tetraplégico está em ampla desvantagem em relação a uma pessoa normal. Ele está impedido de andar, e como existe a deficiência nos membros superiores, também tem muita dificuldade para acionar dispositivos que exijam atuação de ordem física (como cadeiras de rodas). Um tetraplégico normalmente não terá controle das suas funções excretoras, e assim provavelmente usará sondas urinárias (ou dispositivos semelhantes) e fraldas higiênicas.
Até mesmo ficar o tempo todo na cama pode ser mortal: quase sempre ocorrerão escaras, feridas abertas devido à circulação sangüínea interrompida pelo peso do próprio corpo, que podem evoluir para uma infecção generalizada. A falta de movimento e controle das mãos pode ser leve, e com a ajuda de órteses ser possível comer e escrever, mas pode ser tão severa que impeça isso completamente, sendo a pessoa obrigada a contar com o auxílio de outras pessoas para realizar sua alimentação, higiene, acesso a itens de cultura (em outras palavras, ler e escrever), acesso a itens de comunicação (telefone, por exemplo) e assim por diante.
De qualquer forma, estudar para um tetraplégico é sempre muito difícil pois ele dependerá da ajuda constante de outras pessoas para escrever e ler. Essa dependência acabam por trazer ao longo do tempo o afastamento do tetraplégico do universo social, com várias conseqüências de ordem psicológica. Apesar dessa perspectiva tão negativa, hoje já é possível o acesso a um imenso arsenal tecnológico tem tornado viável uma vida muito menos penosa, tanto para a pessoa portadora de tetraplegia quanto pela sua família e a sociedade na qual ele está inserido. Muitos destes sistemas são ativados por voz, eliminando a necessidade do uso das mãos. Em alguns casos já estão disponíveis alternativas pouco convencionais como o acionamento de dispositivos com um sopro ou até pelo reconhecimento eletrônico do movimento do olho.
O Pensamento é “uma atividade mental organizada, com alto grau de liberdade, não limitada ao mundo físico. É um processo organizado de representação neural que forma um modelo mental para o planejamento, definição de estratégias, previsões e soluções de problemas. {...}”
(retirado de O Pensamento – Mapeamento de Imagens por Ressonância Magnética Nuclear Funcional


Tendo em vista que Rodrigo tem o aspecto cognitivo normal,  lançamos mão da Tecnologia Digital para incluir Rodrigo na sociedade do conhecimento.

Terceira Orientação:

O próximo passo é procuramos uma forma para incluir Rodrigo ao conhecimento sistematizado. Mas como fazer isso, se ele não movimenta os membros superiores para escrever?
Daí entra em cena a tecnologia, mediante o software MOTRIZ.
O MOTRIX é um software que permite que pessoas com deficiências motoras graves, em especial tetraplegia e distrofia muscular, possam ter acesso a microcomputadores, permitindo assim, em especial com a intermediação da Internet, um acesso amplo à escrita, leitura e comunicação. O acionamento do sistema é feito através de comandos que são falados num microfone.
O uso do Motrix torna viável a execução pelo tetraplégico de quase todas as operações que são realizadas por pessoas não portadoras de deficiência, mesmo as que possuem acionamento físico complexo, tais como jogos, através de um mecanismo inteligente, em que o computador realiza a parte motora mais difícil destas tarefas. O sistema pode ser acoplado a dispositivos externos de home automation para facilitar em especial a interação do tetraplégico com o ambiente de sua própria casa.
O Motrix vem sendo desenvolvido no Núcleo de Computação Eletrônica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) desde março/2002.
A coordenação do projeto é do Prof. José Antonio Borges
Para continuarmos compreendendo a importância do Motrix Veja os slides: http://www.slideshare.net/Levenhagen/software-motrix

Para saber mais acesse o yotube:
http://tv.nce.ufrj.br/tocavideo.php?video=motrix_habilitar.ram
O Motriz pode ser instalado gratuitamente mediante o site:
http://intervox.nce.ufrj.br/motriz/dowload.htm.

Quarta Orientação:

A viabilização da educação inclusiva pressupõe a disponibilização de dois elementos importantes: A sala de recursos e um professor- itinerante.
A sala de recurso é um espaço destinado ao trabalho com alunos que apresentem necessidades educacionais integrados em turmas regulares. Seu objetivo maior pressupõe a intenção de suplementar e complementar o trabalho realizado pelos professores do ensino regular.
Os atendimentos na sala de recursos devem ser planejados, registrados e revistos para suporte operacional e avaliação do trabalho. Cabe ao professor da sala de recurso está sempre em contato com a família e com todos os profissionais que atendem ao seu aluno (incluindo médico, fonoaudiólogo, psicólogo, entre outros), a fim de trocar informações que com certeza trarão benefícios e acréscimos ao trabalho por ele realizado.
Em especial. É fundamental existir na sala de recursos pelo menos um computador com:
• Todos os softwares educativos e de acessibilidade já instalados;
• Todos os periféricos (equipamentos ligados ao computador) que possam prover a produção de material para consumo educacional do aluno, como impressoras, braile, scanner, etc.
• Todas as facilidades que permitam que o aluno possa fazer uso pleno do equipamento, como mouses especiais, botões de acionamento, caixas de som, exibição de síntese de voz, microfone, etc.
Assim, o trabalho realizado pela sala de recurso aprofunda conhecimentos no aluno contribuindo para o seu desenvolvimento e aprendizagem, facilitando a sua inclusão escolar e social, através da utilização de recursos específicos que atendam às necessidades específicas de cada deficiência sempre respeitando a individualidade do aluno.
O professor- itinerante é um professor altamente especializado, que deve visitar com freqüência as classes regulares que têm pessoas com deficiência, orientando o professor nos termos técnicos específicos de cada aluno com deficiência. O atendimento deste profissional é feito em geral, através de visitas constantes à unidade escolar e acompanhamento em sala de aula ao aluno sob sua orientação. Esse acompanhamento é realizado no horário escolar do aluno em sua turma, constituindo-se em um serviço essencial ao atendimento, não só para o aluno, como junto aos profissionais da escola que com ele atuam.
Diante do exposto, o professor-itinerante precisa dominar o conjunto de ferramentas com perfeição. Isso faz desse professor uma pessoa com competência educacional altamente especializada, e com uma foramção sólida em operação de equipamentos de informática.

No entanto diz o professor Antonio Borges;
“infelizmente, essa utopia, na verdade, não existe. As sala s de recursos são pálidas sombras do ideal e o professor que ali trabalha é muitas vezes um usuário modesto de tecnologia, que conta muito com sua criatividade para doar o melhor atendimento possível às pessoas com deficiência que freqüentam aquele espaço.

Na escola em que Rodrigo está matriculado não existe sala de recursos, apenas um laboratório de informática com o programa Linux Educacional, sem conexão com a Internet, nem existe monitor no turno de aula deste aluno.
E daí o que fazer para que Rodrigo tenha sua inclusão social garantida?
Antes de abordarmos estratégias para a inclusão de Rodrigo ao conhecimento elaborado deixamos uma mensagem para reflexão:
Se você não se levanta para defender o direito de todos, quem é o aleijado?
(autor desconhecido)

Quinta Orientação:


Após a reflexão, passaremos a discorrer sobre os encaminhamentos que professores, gestores e demais profissionais da instituição poderão fazer para a inclusão de Rodrigo numa sociedade letrada e digitalizada, ou seja, numa do conhecimento.
• Solicitar da Secretaria da Educação do Estado à implementação do Motrix:
• Procurar a FUNAD (Centro de Apoio ao Deficiente) para solicitar o auxilio de um profissional que apóie o professor de sala, uma vez que a Instituição não possui professor- Intinerante;
• Conversar com os familiares de Rodrigo para ter acesso aos nomes do profissionais da saúde que o acompanha para aprendermos a fazer com segurança o esvaziamento da urina, para que a criança não tenha infecção urinária;
• Solicitar a colaboração do pessoal de apoio, administrativo, alunos, colegas de sala, enfim a todos que compõem a comunidade escolar no sentido de acolher e tratar com respeito o aluno.
• Realizar formação continuada no âmbito da escola referente a inclusão de pessoas com deficiência;
• Incluir no Planejamento Pedagógico dinâmicas de Inclusão de modo que todos os professores trabalhem de forma cooperativa:
• Formar grupo de estudo para todos os profissionais da Escola abordando as questões de inclusão para deficientes , bem como o uso correto das tecnologias usadas esse fim.

Conclusão:

Diante do que abordamos neste texto acreditamos ser possível que Rodrigo tenha aceso ao conhecimento elaborado tenha as mesmas condições de inclusão nesta sociedade do Conhecimento igualmente aos demais alunos considerados perfeitos.
Sabemos que não é fácil, mas é responsabilidade de todos.
Se você não se levanta para defender o direito de todos, quem é o aleijado?
(autor desconhecido)

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