FARIA, Ana Lúcia G. de. Ideologia do livro didático. São Paulo: Cortez: 2000. 101 p.
ANA LÚCIA GOULART DE FARIA é pedagoga e professora
de Educação da UNICAMP. Este livro trata de um estudo sobre o tema Trabalho à
luz do Materialismo Histórico Dialético. E para fazê-lo foram analisados livros
didáticos – de 2ª à 4ª série – mais vendidos no Brasil no ano de 1977. Como também
foram feitas entrevistas com crianças de escolas públicas (em sua maioria de
origem operária) e com crianças de escolas particulares (de origem de classe
média alta). O citado estudo teve como objetivo averiguar como o livro didático
trata o tema e qual a percepção das crianças sobre ele.
No que tange ao livro didático, este não considera o
valor histórico do trabalho e o conceitua como uma relação homem-natureza, em
que tanto o homem como os outros seres vivos modificam a natureza e contribuem
para o progresso, que é usufruído por todos. Neste cenário, o trabalho é visto
como valor de uso, já que o salário tem pouca importância. A criança, o idoso,
a mulher e o índio são discriminados. Já o operário quase não é mencionado.
Quanto às entrevistas, as crianças de origem
operária percebem o trabalho como uma questão de sobrevivência. Após os 12 anos
a criança deve trabalhar para não ficar preguiçosa. As melhores profissões são
para os mais inteligentes. A escola é quem ensina tudo. E se fizer esforço e
economia pode até ficar rico. Já as crianças de origem burguesa o percebe mais
como um esporte. O patrão só é patrão porque é rico e inteligente. Na escola se
aprende as profissões e a mãe é quem ensina o modo de se comportar. O trabalho
da criança é o estudo. Em alguns aspectos, há uma percepção semelhante em ambas
as crianças. Vale ressaltar que o livro didático não era utilizado nas escolas
privadas. Pois não se faz necessário, de uma vez que a ideologia dominante é a
da burguesia.
Assim, na ideologia burguesa não há classes sociais.
No entanto, a sociedade capitalista é composta por duas classes antagônicas – a
burguesia e o proletariado. Daí ser fundamental que se adote uma educação de
classe. Para isto não é necessário abolir o livro didático. Mas é o professor
que deve adotar uma postura diferente, indo além do conteúdo oficial, pensando
junto com os educandos sobre sua condição de vida, suas experiências, proporcionando
a eles uma reelaboração das novas informações no que diz respeito aos
interesses de sua classe. Isto não implica necessariamente na mudança do modo
de produção, mas a preparação de um novo homem, não só capaz de executar, mas
também capaz de produzir teoria.
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