segunda-feira, 31 de agosto de 2015

(Nova Pedagogia do Trabalho)

Considere a nova pedagogia do trabalho e explique as implicações na formação do novo trabalhador, considerando os seguintes eixos:
1.      Os novos conteúdos;
2.      As novas formas metodológicas;
3.      Os novos espaços e atores educativos;
4.      As novas formas de controle
O atual modelo de produção - globalização da economia e reestruturação produtiva - tem como características tecnologia de base flexível e rápida, intensificação de práticas transnacionais na economia com seus padrões de produção e consumo, comunicação em redes interplanetárias, acesso a informações, uniformização e integração de hábitos.
Este modo de organização econômica exige competências intelectualmente mais complexas, derivadas do domínio teórico, voltadas para o enfrentamento de ações novas que exige reflexão, crítica, flexibilidade, autonomia moral e intelectual, além da capacidade de educar-se permanentemente.
 Para tanto exigem conhecimentos e habilidades demandadas por ocupações especificas, conhecimentos básicos, tanto no plano dos instrumentos necessários para o domínio da ciência, da cultura e das formas de comunicação, como no plano dos conhecimentos científicos e tecnológicos presentes no mundo do trabalho e das relações sociais contemporâneas.


No entanto, todas as mudanças no mercado globalizado não superam a divisão social e técnica do trabalho, pois devido à própria ideologia capitalista - a racionalidade econômica - ainda predomina o Projeto pedagógico do modelo econômico taylorista/fordista, no qual a educação tanto nas escolas quanto nas instituições especificas de educação profissional e nos treinamentos das empresas não prepara o trabalhador para a sua inserção igualitária no mundo do trabalho, tendo em vista que as formas metodológicas deste modelo priorizam a multiplicação de cursos de treinamento fragmentado, direcionados para ocupações bem definidas, ofertados de forma desordenada, de tal maneira que o trabalhador coleciona uma gama de certificados sem, no entanto, construir uma qualificação orgânica e consistente. Estes cursos se resumem na memorização de regras básicas e procedimentos técnicos específicos.
Neste contexto, à formação dos trabalhadores, embora incluídos no mundo do trabalho, há uma dicotomia, tendo em vista que há duas modalidades de educação: a educação técnico-científica para um número reduzido mesmo assim, há uma estratificação entre eles. E a educação precária para um grande contingente de trabalhadores, responsáveis por atividades trabalhistas precarizadas. Devido ao caráter concentrador do capitalismo, acentuado pelo padrão de acumulação, há uma grande massa de excluídos, que se acentua diariamente, totalmente, excluídos da produção e consumo e, consequentemente, do direito à educação e à formação profissional de qualidade. Estes, inegavelmente, precisam dominar o conhecimento e o método, por serem  condições determinantes à sobrevivência.
Diante do exposto, é perceptível que a escola é reprodutora dessas desigualdades sociais, em especial do processo econômico. Posto que ela perpetua a inclusão dos alunos já incluídos, tendo em vista que eles possuem experiências sociais e culturais decorrentes de suas condições materiais,  que lhes favorecem o desenvolvimento de habilidades cognitivas, hábitos e condutas inerentes  conhecimento sistematizado, que  facilitam  o enfrentamento de situações dinâmicas com a necessária flexibilidade, próprias do atual modelo econômico. Dessa forma, a escola pré- seleciona os que terão melhores oportunidades no mundo do trabalho, bem como os que não apresentam sociais, culturais e matérias serão os pré-selecionados para atuar nas unidades produtoras, nas quais ainda predomina o modelo econômico taylorista/fordista.
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Essa polarização na formação da população ocorre devido ao discurso da ideologia capitalista ser a universalização da educação pública e de qualidade para todos, em especial a Educação Básica e na prática, atendendo as orientações internacionais, garante o Ensino Fundamental e restringe o Ensino Médio, o qual deveria proporcionar as habilidades cognitivas, os conteúdos   métodos necessários  inserção igualitária no mundo do trabalho.
Assim, no espaço fabril, os poucos alunos/trabalhadores quel tiveram oportunidade de maior apropriação de conhecimentos científicos e tecnológicos ocupam os cargos mais elevados na hierarquia do trabalho coletivo. Dentre as funções exercidas estão, criação ou adequação de novas tecnologias, gestão de qualidade e funções administrativas diversificadas; para os alunos/trabalhadores que se apropriaram de conhecimentos científicos-tecnológicos específicos e habilidades psicofísicas e modos operacionais, ou seja, conhecimentos e destrezas específicas atuam nas unidades produtivas, nas quais predomina o modelo taylorista/fordista. Para estes, o requisito é que tenha o Ensino Fundamental Completo. por fim, os alunos/trabalhadores  que se apropriaram de conhecimentos mais abrangentes dos campos das ciências presentes no processo produtivo, inclusive de línguas estrangeiras, informática e formas de comunicação com ênfase na competência potencial para usar conhecimentos teóricos para resolver problemas práticos, domínio de cuidados operacionais necessários para lidar com equipamentos sofisticados e de alto custo ocupam cargos nas áreas automatizadas. Para estes trabalhadores o requisito para a admissão é o Ensino Médio Completo. Eles exercem as funções de alimentar/vigiar as máquinas, controlar a existência de problemas por meio de mensagens emitidas na tela do computador. Para tanto, exige-se apenas a memorização de teclas a serem utilizados sempre que necessário.
Devido os custos altos, para uma qualificação em serviço, é mais fácil e barato comprovar a competência por certificação escolar, sem nenhuma comprovação de domínio dos conteúdos. No entanto, no exercício da profissão cabe ao trabalhador mostrar as competências  necessárias para o cargo, tendo em vista que  o alto custo dos processos intensivos em tecnologia exige trabalhadores responsáveis, atentos, flexíveis com relação a necessidade de constantes mudanças e capazes para enfrentar situações problemas com agilidade.
Todavia, o atual contexto econômico exige um novo trabalhador para todos os setores da economia com capacidades intelectuais que lhe permita adaptar-se à produção flexível. Dentre elas estão: a capacidade de comunicar-se adequadamente, mediante o domínio dos códigos e linguagens, incorporando, além da língua materna, uma língua estrangeira moderna e as novas formas trazidas pela semiótica; autonomia intelectual para resolver problemas práticos, utilizando os conhecimentos científicos, buscando aperfeiçoar-se continuamente; a autonomia moral, por meio da capacidade de enfrentar novas situações que exigem posicionamento ético; capacidade de comprometer-se com o trabalho, entendido em sua forma mais ampla de construção do homem e da sociedade, por meio da responsabilidade, da crítica, da criatividade.
As transformações do mundo trabalho exige muito mais do que o exposto.   Em primeiro lugar a universalização do Ensino Fundamental e Médio, com qualidade, para toda a população. Em segundo lugar, uma profunda revisão do trabalho pedagógico realizado nas escolas, visando à construção uma nova proposta pedagógica que supere as limitações do modelo Taylorista/Fordista.

Para tanto, a nova proposta deve estar fundamentada nos seguintes pressupostos:
·         Articulação entre conhecimento básico e conhecimento especifico tendo o mundo do trabalho e as relações sociais como eixo definidor dos conteúdos. Dizendo de outra forma, privilegiar a práxis social e as  peculiaridades de cada processo produtivo, as situações concretas do processo produtivo, como ponto de partida para a seleção e organização dos conteúdos. Substituindo assim, o eixo de organização dos conteúdos, que tradicionalmente tinha como ponto de partida as áreas de conhecimento;
·         Articulação entre saber para o mundo do trabalho e saber para o mundo das relações sociais, privilegiando-se conteúdos demandados pelo exercício da cidadania, que se situam nos terrenos da economia, da política, da historia, da filosofia, da ética e assim por diante;
·         Articulação entre conhecimento do trabalho e conhecimento das formas de gestão e organização do trabalho;

·         Articulação dos diferentes atores para a construção da proposta: setores organizados da sociedade civil, professores e pedagogos, responsáveis pela gestão estatal da educação e responsáveis pela formação de profissionais de educação.
Nessa nova proposta pedagógica a prioridade é para relação teoria/prática;  são outras habilidades, para além da simples memorização de passos e procedimentos, que incluem as habilidades de comunicação, a capacidade de buscar informações em fontes diversas e a possibilidade de trabalhar com estas informações para resolver situações problemáticas, criando novas soluções; e principalmente , é outro processo de conhecer, que ultrapassa a relação apenas individual do homem com o conhecimento, para incorporar as múltiplas mediações do trabalho coletivo.
 Para tanto, não é necessário novos conteúdos, mas que os conteúdos tradicionalmente ensinados, para uma camada restrita da população, que consegue ultrapassar a barreira da seletividade, devem ser objeto de ampla democratização, uma vez que são requisitos mínimos para a participação competente em um setor produtivo que cada vez mais incorpora ciência e tecnologia. Nessa nova pedagogia, a diferença está na forma de selecionar, organizar e trabalhar os conteúdos.
Nesse novo projeto pedagógico, devem ser incluídos os conteúdos sobre as determinações sociais e políticas que levaram à globalização da economia, à reestruturação produtiva e às novas relações entre Estado e sociedade, circunscritos ao campo teórico ideológico do neoliberalismo.
Nestes conteúdos devem ser priorizados:
·         as novas formas de organização e gestão dos processos produtivos e das novas relações sociais por  estes determinadas, incluindo os novos processos de qualidade, não exclusivamente inscritos no âmbito da produtividade, mas principalmente no âmbito da qualidade de vida em todas as dimensões compreendendo a preservação do ambiente;
·         novos instrumentos de gestão e controle do trabalho;
·         as transformações que estão sendo propostas para a legislação trabalhista e previdenciária;
·         as novas formas da organização da economia e dos trabalhadores como alternativas às antigas formas de enfrentamento das condições entre capital e trabalho;
·         as novas demandas de educação geral e profissional para os trabalhadores;
·         os impactos das novas tecnologias sobre a saúde, a segurança em geral e no trabalho.
Essa aprendizagem se faz necessária tendo em vista que os alunos irão desenvolver a capacidade de análise das relações sociais e produtivas e das transformações que ocorrem no mundo do trabalho.
A ênfase no domínio de matemática básica; do desenho geométrico, da língua portuguesa, da estatística, de uma língua estrangeira moderna e de  informática básica. Estas são ferramentas que permitem a apropriação dos conhecimentos científicos, tecnológicos, sócio históricos e de gestão.
 Os conteúdos e as habilidades na área de comunicação, consideradas todas as suas formas e modalidades, incluindo a língua portuguesa, as línguas estrangeiras e os meios informatizados de comunicação, passam a ser estratégicos, nos seguintes aspectos: avaliação crítica, participação produtiva, relações interpessoais no trabalho e na sociedade, participação social.
Neste cenário, a nova função do professor é gerenciar o processo de aprender, não mais ensinando por meio de relações interpessoais com o aluno e sim estabelecendo a relação entre eles e a ciência no seu acontecendo, na práxis social e produtiva. Este processo se da não mais exclusivamente na dimensão individual, mas através de  relações que são sociais, articulando dessa forma as dimensões individual e coletiva, subjetiva e objetiva, teórica e prática, que caracteriza o trabalho humano enquanto categoria fundante dos processos de produção do conhecimento.
Dessa forma, através do novo projeto pedagógico, a educação, estará comprometida com os trabalhadores e excluídos, proporcionando-se uma formação intelectual, técnica  e eticamente desenvolvidos  e politicamente comprometidos com a construção de uma  nova sociedade.


Referência:
KUENZER, Acácia Zeneida. AS MUDANÇAS NO MUNDO DO TRABALHO E A EDUCAÇÃO: novos desafios para a gestão.


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